Recente reportagem publicada na Agência de Reportagem e Jornalismo
Investigativo, com o título “Eles assistem tudo, depois é a vez deles”,
retratou que em algumas unidades prisionais de São Paulo, crianças são
obrigadas a passar por situações de revista vexatória para poder visitar
os pais e em outros casos assistem as mães se despirem diante das
agentes penitenciárias para tal procedimento.
Segundo uma das mulheres entrevistadas, a prática acontece com
frequência em um dos CDPs da capital paulista e já teriam até tentado
fazer seu filho, de quatro anos, passar sozinho por uma sala de revista
masculina adulta. Outra comentou que já precisou até tirar as fraldas do
filho para que passasse pela revista.
Heidi Cerneka, da coordenação nacional da Pastoral Carcerária, foi
uma das entrevistadas e comentou que “segundo a Constituição, a pena não
pode passar da pessoa do preso, mas o que a gente vê hoje é o
contrário. Com estas humilhações, a família acaba não indo mais visitar
ou o próprio preso pede para não ir. E a lei garante o vínculo familiar.
Sem a visita, você garante como? Por carta? Que é violada e lida
antes?”.
Ainda segundo Heidi, muitas mulheres acabam tolerando a revista
vexatória para não sofrerem ainda mais. “São pessoas que vivem
cotidianamente com violações. Para elas, essa é só mais uma violação.
Muitas se convencem de que não é nada para conseguirem aguentar. Porque
ficar indignada e horrorizada toda semana é difícil. Você tem dois
trabalhos: se indignar e desindignar, porque se ela entra chorando, o
preso fica agitado. E a maioria não sabe o que fazer, a quem recorrer”,
afirmou.
De acordo com a reportagem, em São Paulo, o Regimento Interno Padrão
da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) diz que os agentes
podem fazer revistas íntimas “quando necessário” e “em local reservado,
por pessoa do mesmo sexo, preservadas a honra e a dignidade do
revistado”, prática que é questionada por especialistas que foram
entrevistados.
Os autores da reportagem – Andrea Dip e Fernando Gazzaneo –
procuraram a SAP para se pronunciar sobre as denúncias, que disse que
não se manifestaria sobre o assunto. Também o Ministério Público
Estadual também não quis se pronunciar a respeito.
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