14/02/13 - A pedagogia do cuidado


As palavras que soam em cada esquina revelam modismo fútil ou carência fundamental. Hoje voltou com todo vapor o termo: cuidado. Nas pegadas do psicólogo Winnicott e da ética do cuidado ele agita o ambiente. Esta vivência pertence às necessidades básicas do ser humano.
Duas crianças nascem com o mesmo problema biológico. De uma se cuidou com muito carinho, de outra não. A evolução da síndrome varia enormemente para bem com o carinho, para desastre quando ele falta. Reflexão que se repete em artigos sérios e de divulgação. Ambos, porém, trazem verdade de fundo.
E o caso dos presos? Em muitos faltaram, lá na infância, o carinho e o cuidado dos pais por ignorância ou por absoluta carência de condições físicas e psíquicas ou mesmo, não raro, por rudeza bruta. E os frutos: infelizmente eles se encaminham para o crime, para aventuras desvairadas, para afirmações de personalidade desastrosas, para surtos psicóticos.
Cabe apostar na possível recuperação dos mesmos pela via de que careceram na infância: o cuidado. O fato de já serem adultos, carregados de crimes, não os faz imunes do toque do cuidado. Vai-se além da simples defesa dos direitos humanos para alcançar grau maior de humanidade ao cuidar dos criminosos e não amontoá-los em celas sórdidas.
As condições precárias e animalescas de presídios e prisões agravam as carências dos encarcerados, tornando-os ainda mais desumanos. A inatividade e a ociosidade, mãe de todos os vícios segundo o dito popular, não sem razão, açulam-lhe a fantasia criminosa. Diferente seria se lhes ocupassem a afetividade com ações de ajuda.
O cuidado pelo criminoso implica quase heroísmo. Alguns crimes que cometeram nos revoltam. Julgamos estar diante de monstros. Como sentir por eles o que o cuidado pede: afeto, diligência, esforço, trabalho, solicitude, atenção, pensamento, empenho, dedicação, ter junto ao coração, amor, preocupação, temor? Eis o desafio da Pastoral Carcerária e de qualquer ação e movimento que pensem na sua humanização.
Internos na prisão torna-se possível o acesso a eles. Caberia pensar pedagogia de cuidado a ser aprendida e realizada pelos que trabalham no presídio. Tarefa extremamente difícil, seja por total despreparo para essa função. Nada como começar e somar a tais empenhos grupos voluntários na direção da sua humanização.
Um exemplo de esperança: Santa Terezinha soube da condenação à morte de um criminoso. Rezou muito por ele e pediu a Deus um sinal pelo qual ele mostrasse ter se arrependido. Ao caminhar para o cadafalso para ser enforcado lançou olhar dorido para o crucifixo que o sacerdote lhe mostrou antes da execução. Isso bastou para a santa.
Além da oração, resta-nos longo caminho para sanar tanta doença humana na dupla via de reabilitação dos criminosos e, mais importante ainda, na prevenção ao crime. Tanto os que se enveredam por essa desventura necessitam de cuidado. Eis o leitmotiv para o trabalho com os presos!

Por: Padre João Batista Libanio, sj

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