03/01/14 - Mães presas, filhos condenados


 
Uma geração invisível nasce e vive sob o estigma da prisão, mesmo plena de inocência. No país, 80% das presas têm filhos, gerados dentro ou fora da cadeia. A realidade dessas crianças, na prisão ou fora dela, nas unidades materno-infantis ou nos abrigos, ilustra como os crimes das mães e, em muitos casos, a morosidade dos ritos da Justiça deixam sequelas nas famílias.

São 18 mulheres, multiplicadas por dois. Recolhidas no Presídio Talavera Bruce, no complexo de Bangu, na Zona Oeste do Rio, elas compartilham dias e noites de nove dos meses mais cruciais na vida feminina: o período de gravidez. É sobre ele e os filhos que estão gerando que sete delas falam com a repórter, entre apáticas, irritadas e resignadas. As detentas confirmam, com suas histórias, as estatísticas: grande parte está presa por tentar entrar em presídios com drogas. Apenas duas estão na primeira gestação. Os dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) indicam que 80% das mulheres presas são mães e 60% foram encarceradas por crimes relacionados ao tráfico. Desde fevereiro deste ano, as presas grávidas do Rio estão reunidas no Talavera Bruce.

Carregando no ventre um futuro incerto, como suas colegas de cárcere, e grávida do quinto filho, Lídia, de 30 anos, está presa por ter entrado com drogas em outro presídio, em troca de dinheiro. Foi enquadrada no artigo 3340 do Código Penal, como grande parte das 1.700 presas do sistema carcerário do Rio. Ela visitava o pai de um de seus filhos. É sua primeira passagem pela polícia. Descobriu que estava grávida na prisão.

— Eu sei que o que eu fiz não foi certo. Mas, para os meus filhos, não vou enganar a senhora, não, faria de novo. Só sou eu por eles e eles por mim. Mas quando eu entrei no sistema (na prisão), não sabia que estava grávida, descobri aqui. Foi um desespero. Tá sendo difícil, a distância, a saudade, mas eu tento me equilibrar. Já tive um princípio de aborto, fiquei internada quatro dias — conta Lídia, que não vê os filhos há três meses e diz não ter tido o perdão da mãe.

Jocimara, de 32 anos, também descobriu que estava grávida na prisão. Foi flagrada em uma revista corporal num presídio masculino. Desconfiou da gravidez depois de duas semanas no presídio Joaquim Ferreira de Souza, também em Bangu, e porta de entrada do sistema carcerário feminino. Além do bebê que espera, Jocimara tem outros cinco filhos — dois moravam com a avó, no Espírito Santo, e três com ela. Todos agora estão em solo capixaba. As crianças não veem a mãe há cinco meses.

Fonte: O Globo

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